domingo, 22 de março de 2009

O espírito do BDSM

Quando há cerca de 3 anos e meio me aproximei da coletividade bdsmista, institucionalizada em listas de discussão, blogs, sites e alguns pontos de encontro das grandes cidades brasileiras, uma das coisas que me surpreendeu foi a recorrência do tema sobre o que seria verdadeiro e falso no BDSM, quem seriam os verdadeiros e falsos Tops e bottoms, qual a medida dos verdadeiros praticantes do meio.

Primeiro, cumpre dizer que essa preocupação advém da banalização das práticas bdsmistas pela mídia, o que as popularizou e atraiu muita gente para a coletividade em busca de sexo fácil, selvagem ou – como se diz popularmente – de uma boa putaria, o que passa ao largo do BDSM real.

Segundo, que os próprios praticantes do meio, ao cotejar suas idéias e práticas, procuram estabelecer um padrão de qualidade para si mesmos e para os outros, parâmetros que, muita gente, contudo, considera uma camisa-de-força capaz de tolher a liberdade individual. Tanto que muitos se insurgem, equivocadamente, contra tentativas de estabelecer até critérios mínimos que permitam aos iniciantes, por exemplo, separar alhos de bugalhos.

Pessoalmente, acho que o que define se alguém é verdadeiramente bdsmista é simplesmente o desejo, desejo por dominar, ser dominado, ou ambos, excitação e realização sexual em torno de objetos e situações inusitadas aos olhos da normalidade.

Muito além das práticas exóticas, contudo, que inclusive são realizadas por quem não é bdsmista, nos casos mais light, o que diferencia mesmo o bdsmista do não-bdsmista é a aderência a relações verticais, hierarquizadas, onde sempre existe um(a) Top(agente) e um(a) bottom (paciente) nas inteirações entre os pares, onde alguém sempre dirige a relação e o outro alguém é dirigido, onde alguém sempre manda e outro alguém obedece, onde alguém serve e o outro alguém é servido.

Mesmo quem é switch (tem desejo tanto de dominar quanto de ser dominad@) vai assumir um papel ou outro, mas sempre em separado, em diferentes situações, em diferentes relações. Numa mesma situação (cena), a mistura de papéis não é bem vista, se bem que existam os que questionem essa regra.

Outra medida de verdadeiro é a adesão do praticante à santíssima trindade do BDSM, o princípio do são, seguro e consensual (SSC), implicando que, sejam quais forem as atividades envolvidas numa relação, tudo deve ser de inteiro acordo entre as partes e procurando preservar a saúde física e emocional de tod@s. BDSM não é violência, não é feito contra alguém, é feito com alguém visando ao prazer mútuo dos envolvidos na relação, mesmo quando as práticas são agressivas, causam dor e até deixam marcas. O que é de gosto é o regalo da vida, como diz o ditado.

Fora isso, essa questão de falso e verdadeiro se aplica mais às pessoas como seres humanos e não a seus papéis de Tops ou bottoms e não é muito diferente do que ocorre no mundo baunilha. Orientação sexual ou preferências sexuais não definem o caráter de ninguém, tanto faz se homem, mulher, trans, hetero, homo, bi, pan, baunilha, bdsmista, etcetera.

Separar o joio do trigo não é tarefa fácil, e às vezes a gente se engana, mas, principalmente no BDSM, trata-se de tarefa fundamental.

2 comentários:

  1. Ola minha linda, mesmo afastado do meio sempre bom ler postagens, pertinentes e inteligentes.

    bjos

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  2. Oi, meu caro Kleiton.
    Apesar do atraso, obrigada pela visita e pelo elogio. Volte sempre para cá e para o meio também. Há visitas imprescindíveis.

    bjs,
    DLSM

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