sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dita Von Teese em ensaio lésbico e na boate The Week


A atriz e dançarina burlesca Dita Von Teese fará uma apresentação na boate The Week, no próximo dia 28/10. Responsável por reinventar a estética pin up dos anos 40 e 50, trará ao Brasil o espetáculo Be Cointreauversial, em show reservado para 400 convidados.

O gênero musical das novas pin-ups, reinventadas por Dita é o psychobilly, que mistura o punk do final dos anos 70 e começo dos 80 e o rockabilly norte-americano dos anos 50. No visual, fora o indispensável corset, rola também uma mescla de calças e saias cintura alta, saltos altos, blusas xadrez e vestido de bolinha, com tatuagens, piercings e acessórios de caveira e teias de aranha. Mais infos sobre o show ao fim do post. Também vídeo com a diva como aperitivo.

Mas Dita também está na boca do povo no momento pelas fotos fetichistas lésbicas (como nas fotos desta postagem) que fez com a coelhinha da Playboy Alley Baggett, em 1999, e que estão circulando pela Web. Veja mais fotos do ensaio, clicando aqui.


Dita from enkil on Vimeo.
The Week - Rua Guaicurus, 324; (11) 3872-9966
Bar Z Carniceria - Rua Augusta, 934; (11) 2936-0934
Onde comprar: Cherry Pie - Galeria Ouro Fino, Loja 119, Rua Augusta, 2690; (11) 3061-2739;
www.cherrypie.com.br
Universo Pop - Rua Augusta, 2247; (11) 3062-2064;
http://www.universopop.com.br/

A cena BDSM pelo pesquisador Bruno DallaCort Zilli
























BDSM é um acrônimo para bondage, disciplina, dominação e submissão, e sadismo e masoquismo. O BDSM envolve ainda o fetichismo. Embora sejam classificadas como distúrbios sexuais pela medicina, tais atividades sexuais são regidas por um conjunto de “ferramentas de segurança e argumentação” – as quais incluem a chamada safe word, o respeito ao consentimento do parceiro e o conceito SSC (são, seguro e consentido) – criadas e definidas por seus praticantes no sentido de legitimar essas atividades e afastá-las do rótulo da perversão e da patologização. A internet tornou-se assim o principal espaço onde os praticantes do BDSM se comunicam para trocar experiências e organizar-se politicamente para combater o estigma e o preconceito que os perseguem, conforme afirma o pesquisador Bruno DallaCort Zilli no artigo “BDSM de A a Z: a despatologização através do consentimento nos ‘manuais’ da Internet”, desdobramento de sua dissertação de mestrado defendida no Instituto de Medicina Social (IMS/UERJ) em 2007.

Na pesquisa, feita pela internet, Zilli faz uma análise etnográfica do fluxo de informação contido na web, nos canais que permitem que os praticantes do BDSM entrem em contato uns com os outros, focando-se principalmente nos elementos textuais que contém informações sobre o BDSM, os quais o autor chama de “manuais”.

Um dos autores dos 20 artigos que compõem a coletânea “Prazeres Dissidentes”, lançada pelo CLAM e Editora Garamond no dia 21 de outubro em São Paulo (10 de novembro será no Rio de Janeiro), Bruno Zilli explica nesta entrevista as maneiras pelas quais se constroem subjetividades e identidades coletivas a partir da prática BDSM, interpretando os discursos que seus praticantes utilizam para legitimá-la.

Como explicar ou conceituar o BDSM para além do acrônimo usado para defini-lo?O próprio acrônimo já indica o esforço de legitimação que caracteriza o BDSM, por parte dos próprios adeptos, no sentido de ressignificar as práticas. Quem não pratica ou conhece o BDSM geralmente define estas atividades como sadomasoquismo, ou mais comumente, como perversões sexuais. No meu estudo eu as entendi como um conjunto de atividades sexuais que formam uma identidade sexual. Os seus adeptos se identificam como praticantes de BDSM, e alguns dizem “Eu sou BDSMista”.

Qual o papel e a importância do consentimento na prática do BDSM?O senso comum considera o BSM como uma coisa patológica ou criminosa. No entanto, há um esforço entre seus adeptos em legitimá-lo, tornar a prática “politicamente correta”, que se dá através de “ferramentas argumentativas” como o conceito de SSC (que significa que a atividade é sã, segura e consentida). Nenhuma das atividades BDSM deve ser praticada sem que todos os indivíduos concordem com o que esteja acontecendo, para os envolvidos tem que haver consentimento. O dialogo é muito importante entre seus praticantes.

Esse diálogo se dá no sentido de negociar...
Sim, é necessário que cada praticante saiba tudo o que vai acontecer para que possa dar o seu aval. As pessoas entram em acordo sobre o que as excita e o que não, o que esperam do parceiro e o que não desejam, o que não consideram prazeroso. Nesse sentido podemos dizer que o BDSM também é um “jogo erótico”, praticado para estimular o prazer, mesmo que algumas vezes seja através da dor. Não necessariamente uma dor física, pois o prazer pode se dar através da “dor emocional”, uma humilhação simulada, por exemplo. E são esses elementos que dão o sentido erótico destas atividades: a dor e a humilhação.

Todas essas “ferramentas de segurança” e a simulação nos dão uma idéia de que se trata de um jogo cênico. Mas isto não acaba descaracterizando um pouco a prática, tendo em vista que a violência, neste caso, é a fonte do erótico?
De fato, alguns praticantes de BDSM consideram haver um elemento de atuação. Há inclusive debates dentro da comunidade BDSM sobre o que seria o “BDSM real”, e sobre quais os limites do consentimento ou da negociação. Contudo, há o estimulo baseado na dor, e esta é real. E isso é considerado prazeroso. Mas há também a idéia de cuidado e segurança. Por exemplo, os praticantes afirmam que é preciso saber como se amarra uma pessoa sem prender a sua circulação sanguínea. Também, por exemplo, ensinam que se deve evitar bater na região do torso, onde ficam os órgãos vitais. Alguns praticantes falam sobre como essa negociação é erótica em si mesma. A prática não deixa de ter um caráter erótico só porque está sendo “encenada”.

Pode-se perceber que o que se busca com estes cuidados é uma sexualidade legítima, e por isso todos os elementos ilegítimos são expurgados do BDSM, como a violência real. A violência é o principal elemento do BDSM, mas também é o que precisa ser “apaziguado”. Nesse sentido, é possível falar de uma “domesticação” da violência, que é elaborada através do consentimento em algo legítimo e aceitável – justamente porque é consentida.

Qual a relação do esforço dos argumentos de legitimação do BDSM e a medicina?Os praticantes estão desenvolvendo todo esse conjunto de argumentação para afastar a prática BDSM da criminalidade e da patologia. As perversões são definidas no final do século XIX já com esses nomes que conhecemos – sadismo, masoquismo, o fetichismo a homossexualidade (que saiu deste rol na década de 70 graças aos esforços do movimento gay norteamericano) e se mantiveram estáveis enquanto categorias diagnósticas dentro das classificações psiquiátricas. Dentro da medicina, e da psiquiatria em especial, ainda são consideradas um comportamento patológico. Mas pelas definições médicas, o masoquista só consegue prazer através da dor, o sádico só consegue ter prazer causando esta dor, e o fetichista só se excita com algumas partes do corpo ou objetos específicos, como pés ou couro. Esta exclusividade de só conseguir o prazer em causar ou receber dor ou com certos fetiches é uma das características do diagnostico psiquiátrico para estes transtornos mentais. Entende-se que estes transtornos são realizados contra pessoas que não consentem serem alvo destes desejos. Mas, afirmam os praticantes de BDSM, é sempre consentido o que eles fazem, nunca estão agindo contra a vontade de alguém. Dessa maneira eles desassociam suas práticas das patologias sexuais, que não são consentidas. Além disto, os praticantes reconhecem que não dependem exclusivamente do BDSM para ter prazer, diferente da exclusividade que é descrita como patológica pelos manuais psiquiátricos.

Sua pesquisa analisa os “manuais” de BDSM na Internet, isto é, espaços virtuais onde circulam informações e argumentação sobre a prática, organizados pelos adeptos. Em que medida esses espaços são usados para legitimar essas atividades?
Há um conjunto de regras e definições que circulam em ambientes virtuais que são elaborados pelos praticantes, e que eu chamo de “manuais” - e que podem ser páginas, listas de discussão por e-mail e fóruns, e que não têm um formato único – embora o conteúdo seja sempre muito parecido. Nestes espaços da Internet o BDSM, seus conceitos, atividades e definições são debatidos e refinados pelos seus adeptos. O SSC, por exemplo, tem sua definição mais fechada, mas ainda existem diferenças e desacordos que vão sendo aos poucos negociados para alcançarem uma sintonia maior. Os próprios praticantes reconhecem nestes espaços que o consentimento tem fronteiras e limites, mesmo como uma ferramenta de legitimação e de segurança. Eles debatem esses limites, sempre buscando desenvolver um guia de práticas que sejam mais seguras e legítimas possíveis. Eles entendem que é preciso ter conhecimento para praticar o BDSM. A assimilação dessas regras é parte essencial da prática BDSM. Como saber usar a safe word para negociar o consentimento, por exemplo.

O que é a safe word?
Algum tipo de sinal – que pode ser uma palavra ou gesto – previamente combinado antes da atividade BDSM ser executada que, quando dado no meio da atividade, faz com que tudo pare, porque alguma coisa não está mais dando certo, alguém não está confortável com o que esta acontecendo ou algum limite foi ultrapassado. Por esse motivo, nunca são usadas palavras como “Não” ou “Pare”. A safe word tem que ser uma palavra que não remeta ao contexto erótico do que está sendo praticado. Pode ser uma palavra neutra, que descreva uma cor, como “Amarelo”.

Então ela é combinada previamente?
Sim. Sempre vai se combinar uma safe word, para caso aconteça algo que um participante não goste, mas que acabe sendo feito por seu(s) parceiros(s), ele tenha uma maneira clara e direta de comunicar seu incômodo. É por isso também que o conteúdo das atividades BDSM são geralmente pré-combinados. As práticas estão associadas ao gosto das pessoas. A pessoa que gosta de dominar ou de bater é conhecida como top, e a que gosta de apanhar ou ser submissa é definida como bottom. Há pessoas que se sentem à vontade para desempenhar os dois papéis dependendo com quem estejam. As pessoas que fazem as duas coisas são conhecidas como switchers. Mulheres podem ser tops, pois não é preciso ter um falo. Dominação e sadismo não estão ligados à penetração ou ao estímulo genital, necessariamente. Embora no vocabulário gay norteamericano bottom se refira a quem é penetrado na relação sexual, no BDSM o bottom poder agir como penetrador. Seu papel ainda é de submissão – ele penetra porque a outra pessoa o está “obrigando” a fazer isso dentro do contexto da “atuação” da dominação e submissão. Os praticantes de BDSM entendem que é importante conhecer todas essas definições e nomes.

Não seria este o papel do que você chama de “manuais” em seu trabalho?
Exatamente. O primeiro papel dos manuais é informar, e quem não conhece passa a ter a oportunidade de conhecer. O segundo é ajudar a pessoa que pratica o BDSM a falar dessas atividades de maneira a legitimá-las, explicar que existem regras e guias de atividades de como praticar com segurança o BDSM.

Qual a importância da internet para os praticantes do BDSM?
Além da possibilidade de acessar esse material, a Internet dá a possibilidade do anonimato, o que facilita entrar em contato com outras pessoas que têm gostos semelhantes. Mas também permite que as pessoas debatam e divulguem os conceitos e definições do BDSM. Ao fazer a pesquisa, percebi que havia uma grande quantidade de material online, facilmente acessível, e que o seu conteúdo é muito importante para entender o BDSM.

A preferência e o gosto pelo BDSM são algumas vezes explicados, nos discursos patologizantes, como resultado de algum tipo de trauma na infância da pessoa que o pratica. Como esse tipo de discurso é recebido no circuito pesquisado?
Os praticantes se afastam dessas afirmações. Dizem que é uma prática saudável e não identificam em si mesmos um percentual de traumas e abusos na infância. Um dos esforços principais dos praticantes de BDSM, e que aparece também nos manuais e nos argumentos ao redor do consentimento, é escapar da idéia de que estas atividades são patológicas e abusivas. Os praticantes dizem que não dá para explicar o prazer pela dor, assim como não se explica a orientação sexual de uma pessoa. Definem suas práticas como um direito de exercer sua sexualidade – sem deixar de entender que possuem deveres, que seria a responsabilidade de respeitar o consentimento alheio em participar ou não destas atividades.

Fonte: Centro latino-americano em sexualidade e direitos humanos